Construção de si
À casa de litros
Passamos por dores
Por vezes profundas
Que nos faz de litros
À casa de litros
Passamos por dores
Por vezes profundas
Que nos faz de litros
Num saco de lixo
Soube muito mais de você
Do que pressupunha
Nunca imaginei
Que ainda gostava
De bolinhas de gudes
Como conseguiu
quebrá-las?
E o que signfica
Aqueles vários tubetes
vazios?
A coleção de selos
que nunca foram colados
O diário que nunca começou
Os dias passaram
Sempre fui sua
faxineira
Mas amanha não
Não
Estarei em outra casa
Você também
E nem para me deixar
um recado
Que precisava
de mim
Nunca te vi
sem um sorriso nos olhos
Agora limpo
Seu canto
Sem som
Sem sol
Sem encanto
Sabendo que
Jamais receberei
O teu estender de mãos
Penso que
Se eu prestasse atenção
No seu lixo
Antes
Talvez não te visse
Com as mãos cruzadas
No coração
Levo para casa um porta retrato
Tão memorável e estático
Como essa situação
De inevitabilidade
Do ser
Estou me sentindo um lixo
E sinto que você está
Recolhendo meus caquinhos
Enquanto nós dois
‘Ao pó de ce mos’
Escuto a nona sinfonia
Que Beethoven criou
Sem escutar.