Dilacerante.
Tento segurar minha vida em mim
É dilacerante
Esse apego
O faço para não ser egoísta
Com os outros que me ama
E sou comigo mesma
Tento ver graça
Os dias passam passam e passam
Continuo me sentindo covarde
Presa numa casca
Passando uma força que não tenho
Fingindo
Fugindo do espelho
Repete uma afirmação desde criança
Eu não queria estar aqui
Torço para que a vida se acabe
De uma vez por todas
Não caibo nela
Não me encaixo
Se não me suporto
Porque alguém deveria?
Cansei
Queria ser escritora
Mas não tenho ideias vendáveis
Além das advindas do sofrimento
As outras mais
São todas ideias copiadas
Do moralismo vigente
Minha alma sofre
Mais do que eu possa saber
Quando criança batia a cabeça na parede
Hoje a parede bate em mim
Não posso fugir
Das paredes invisíveis desse labirinto
Quando vejo, ficou um calo
Todos dizem
Vai sarar quando…
Casei
Agora além de mim
Tenho que levar o que chamam de família
O peso da responsabilidade dobrou
E o ofício de mostrar aos filhos que a vida é bela, quem me dera,
Quando eu mesma não confio nela
Me sinto presa, sufocada
Fugindo dos meus pensamentos o tempo todo
Temo ser quem sou
Porque não queria ser
Se o auge de uma pessoa é a vida
Porque nos abandonamos tanto?
Ao meu redor todos dizem uma coisa e fazem outra
Mas eles não se importam com isso
Não suporto minha própria falsidade, quem dirá a alheia
No fundo estão todos correndo atrás de seus próprios garfos
Sem se preocupar com os fardos dos outros
Achando que pessoas como eu só se alimentam com tridente…
Sem saber que olhar de piedade não sacia
Que o toque de amizade alívia.
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O que pode se esperar de uma pessoa que pensa assim?
Ontem dormi sem querer acordar. Hoje após encaminhar a criançada para escola, fui ver os e-mails. Para minha surpresa uma pessoa, que ainda não conheço pessoalmente, escreveu dizendo que que fez um desenho para eu contemplar, colorir e mentalizar.
Eis a vida me chamando, o carinho que enaltece!
Os pensamentos não mudaram, mas receberam um toque de felicidade.
A diferença é que agora tomando antidepressivo e fazendo psicoterapia, consigo os identificar tais pensamentos e procuro não me afundar neles. Outra grande diferença é que com o tratamento tenho energia (falo da física mesmo) para levantar e fazer as atividades diárias. E a mais hábil diferença é que consigo perceber o carinho mesmo de quem está à milhas de distância.
Esse foi o primeiro texto que fiquei receosa em publicar, é forte e muito expositivo. Mas aí lembrei do que havia falado para vocês, nessa altura do campeonato não tenho nada para perder.
Talvez alguém encontre identificação, se sim saiba que não está só nesse sofrimento existencial. Que mesmo um desenho pode mudar a maneira de lidar com o seu dia.
Por horas resolvi lutar, sei que não escolhi ser assim, mas posso escolher não estar assim.
Respondendo à questão acima, vou esperar o melhor de mim, mesmo quando não conseguir enxergar.
Chorei ao ler seu texto minha querida amiga… não por ser forte e muito expositivo, mas por me tornar mais humano do que já sou. E como todo ser humano, talvez seja a sensação de impotência que nos toma ao ler este seu relato que, ainda que triste é bonito por ser verdadeiro. O que posso fazer?! Lembrei-me dos últimos momentos com minha irmã no qual ela repetiu várias vezes: Sandro… estou indo embora… estou indo, Sandro! E eu tentando acalma-la dizia: Calma Ivone… estamos aqui! Não tenha pressa… tudo tem a sua hora, mas você não está sozinha… estamos aqui! E apesar de aparentar calma naquele momento, meu coração era dilacerado pela enorme sensação de impotência. Perdoe-me se este comentário não era o que gostaria de ler (também fiquei receoso e peço que delete se assim achar melhor) mas saiu transbordando do meu coração. O que posso lhe dizer é que:.. não tenha pressa… estamos aqui (pelo menos a internet nos dá o superpoder de teletransportar pensamentos)! Tenha um dia abençoado e produtivo! Beijo no coração Cristileine!
Suas palavras são bem vindas, já me sinto sua irmã. O dia está sendo produtivo, a vida demanda, hora de buscar a tropa na escola e sextaaaa. Quando colocamos a dor para fora, ainda que no papel, parece que os pensamentos vão se reorganizado. Quanto à sua irmã, que passagem. Lembrei o quão distante está minha família, mas como você disse temos esse teletransportador. Muito obrigada por seu carinho constante. Tenha um excelente dia. Beijo.
O pior na vida e o que mais se percebe são pessoas vivendo vidas que não são delas. É preciso coragem para estar em constante mudanças, e como diria Abujamra “Quem tem medo da Desgraça não evita a Desgraça”.
Parabens pela força de conseguir expor tudo isso.
“E o ofício de mostrar aos filhos que a vida é bela, quem me dera” : Quem nos dera!
É preciso bailar bem para continuar na dança das cadeiras.
P.S.: parece q não vai haver horário de inverno. O que achas?
Olá, então, nem acho que isso seja coragem, mas um grito de alerta para tentar assustar a desgraça. Como você refraseou: “quem tem medo da desgraça não evita a desgraça”, estamos aqui suscetíveis… Obrigada por comentar.
Não tenho uma opinião formada sobre isso. Uns dizem que é para a economia de energia, outros dizem que é balela. Aqui já temos mudanças bruscas para nosso relógio biológico: no verão ficar claro até às 22h e no inverno escurecer às 16h. Mas aí é outro assunto que não tem como alterar. Claro, que sou a favor das medidas de economia de energia, as quais devem ser muito além que imposições de horários…
Cris, você não está só! Escrever é sua terapia! E o faz muito bem! Quando estava grávida do primeiro filho fiquei com depressão. Nada tomei. Senti essa ausência de forças para tudo e me culpava, pois estar grávida era um sonho maravilhoso! A médica disse que era devido a confusão hormonal. Foi duro! A família nos faz tirar forças de onde nem imaginamos possuir, principalmente filhos. Felizmente venci aquela fase. Luto contra tudo isso me doando aos outros. Sei que se eu parar a “parede baterá em mim”. Tenho antecedentes. E acompanho o afundar e tentar reerguer-se de meu irmão depressivo e alcoólico. E escrevo e sigo…
Não me referia à economia. Apesar de reconhecida importância.
Referia-me ao corpo e a mente.
Nessas quase 2 décadas, não sei o q é não ter horário de inverno. Receio o período p mim e p os estudantes. Até pq não falam de mudanças no horário de escola.
O existencialismo é um humanismo…Sartre…me vi relendo a Náusea de Sartre….forte… força Cris.
Musicas são umas das minhas terapias pra seguir “caminhando e cantando e seguindo a canção”, e me lembrei de Lulu Santos dizendo-nos que: “a vida vem em ondas como o mar, num indo e vindo infinito”
Ele que há pouco se libertou de amarras sociais e sem revolucionar, mas revolvendo-se mostrou que tem vontades e desejos que fogem ao padrão estabelecido e nem porisso deixa de ser quem é como parte desta sociedade que ai está. Benditos os artistas, escritores, filósofos e toda sorte de gente que se expressa, e sem pressa chega mais longe do que os que correm sem saber pra onde vão.
Alda, lute mesmo, é o que nos resta. Quando encontramos o que nos motiva tudo fica mais ameno, estou na busca. Beijos e bom fim de semana.
Você encontrará! Não desista! 🙏❤️
Ah entendi, é ruim mesmo. Estou imaginando eu na estação naquele escuro e frio. Eu não dirijo aqui. Quando mudei para cá nem sabia desses dias curtos e longos. Muitas descobertas e adaptações. Bom fim de semana.
❤
Então cante.
Me identifico muito, por vezes não quero acordar, não gostaria de estar de aqui.
Mas ao mesmo tempo, não conseguimos desistir, pelas pessoas que nos amam.
É uma luta diária, com terapia e remédios vamos seguindo.
Vamos. Hoje o que me causa mais responsabilidade é também o motivo da minha existência, os filhos. Mas, eles crescem rapidamente e não tenho pretensão nenhuma que fiquem debaixo da minha asa. Então fico pensando o que será que será. Quanto comento isso com a psicóloga, ela diz que em cada momento da vida podemos e devemos achar um sentido, que se sinto que logo eles vão partir, é hora de ir colocando outro sentido no lugar. Gostei dessa ideia, nada termina, tudo se renova. Também gostei do que sua psicóloga falou para você, me ajudou muito, saber nomear as coisas. Agora quando tenho ataque de frustação e aqueles pensamentos aproveitam a brecha para invadirem, paro, penso, nomeio e logo eles passam. Me ajudou muito. Obrigada 😘
Imagino como seja.
Mas sua psicologa está certa. E temos que passar por cada momento de uma vez. Quando chegar a hora deles serem independentes, aos poucos você encontrará outros sentidos.
Sim, ajuda bastante mesmo, separar as coisas e nomeá-las corretamente. Vemos com mais clareza.
E fico que tenha ajudado. 😊
Bjos 😘
Oi, Cris!
A mente é terra que ninguém do externo pisa, a não ser nós mesmo com ajuda de mapas de vivencias de outros para nos orientar. Mas, na verdade acredito que, a força vem do eu mesmo de cada um, dependendo do estado de espirito do qual se encontra.
Eu não tenho a doença, mas devo admitir que parece que você tirou isso da minha mente. Tenho absoluta certeza que muitas pessoas se identificam com sua vivência! Acredito que é uma forma comportamental normal de cada sentimento do ser humano.
Todos nós vivemos pressões emocionais, como se estivéssemos saindo de do reflexo do vicio das drogas externas da vida!
O mais importante é encontrar através dos mapas de vivencias de outros para nos orientar e a vida ter seu curso…
Não sei se me fiz entender, ou piorar a sua forma de pensar, mas saiba que você não está sozinha!
Grande Beijo.
Fique bem, você é uma pérula lapidada!
Sei disso, a luta é contra o próprio pensamento. Em tratamento é mais fácil de entender como lidar com os pensamentos negativos e destrutivos. Abraços querida, espero que já tenha se restabelecido. Bj.
Sofro do mesmo mal.
Muitos estão sofrendo também, por isso resolvi falar.
Cristileine, boa tarde. O sofrimento é um campo fértil para as palavras, mas, não as tomai pelo sentido óbvio. As palavras podem ser cáusticas, ásperas, macias, suaves. Depende de quem as fala, da condição da narrativa. Sua narrativa, apesar da depressão, me soa suave. Gostei muito… Bjus
Olá, isso mesmo, tudo depende do tempo e da condição que o sofrimento nos atinge. Nessa narrativa eu estava bem cáustica, mas depois fiquei “articulando” para não me derreter nesse meio corrosivo. Obrigada por seu comentário e até mais.